
Nos seis primeiros meses de 2023, o Brasil testemunhou um aumento alarmante de 52% nos pedidos de recuperação judicial em comparação com o mesmo período de 2022, de acordo com dados da Serasa Experian. Até junho, 593 solicitações foram registradas, das quais 485 foram aprovadas. Surpreendentemente, 78% desses pedidos partiram de Micro e Pequenas Empresas, seguidos por 32% de Médias Empresas e 13% de Grandes Empresas. O foco principal neste ano tem sido o cenário alarmante das Grandes Empresas, especialmente no que diz respeito ao volume expressivo de dívidas, que tem sido amplamente noticiado.
Esses números são alarmantes e devem ser contextualizados. Nos últimos anos, enfrentamos uma elevação constante da inflação e uma política monetária contracionista, marcada pelo aumento da taxa básica de juros. Portanto, essas empresas provavelmente estão lidando com desafios econômicos desde os primeiros impactos da pandemia. Embora o cenário econômico esteja começando a mostrar sinais de alívio este ano, com a inflação acumulando 4,61% nos últimos 12 meses e uma expectativa de encerrar o ano em torno de 4,86%, minha análise aponta para uma inflação de cerca de 5% a 5,5% para o ano, considerando, fatores como o aumento nos preços do petróleo, que se aproxima dos US$ 100,00 por barril no momento em que escrevo este artigo.
Ao examinar a atividade econômica, observamos um crescimento de 3,7% no PIB brasileiro no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2022, com destaque para a Indústria e os Serviços. No entanto, a Agropecuária registrou queda. As despesas de Consumo das Famílias e as despesas de Consumo do Governo também apresentaram crescimento, mas as projeções para o segundo semestre não são tão otimistas. No ano, o PIB cresceu 3,1%. A OCDE estimou um crescimento do PIB de 3,2% para 2023, enquanto as expectativas do mercado brasileiro, apontam para um crescimento de 2,89%. Isso sugere que o PIB pode enfrentar dificuldades no último semestre de 2023.
Nesse cenário desafiador, as empresas precisam investir cada vez mais em análises precisas e ter uma compreensão detalhada de seus números para enfrentar possíveis desacelerações econômicas. Embora a redução recente da taxa de juros de 13,25% para 12,75% possa indicar uma melhoria na perspectiva econômica, os impactos dessa mudança não serão percebidos a curto prazo no ambiente empresarial, afetando inicialmente o mercado financeiro e suas projeções. No entanto, essa redução já aponta para uma perspectiva mais otimista de aquecimento da economia no futuro.
Portanto, cada análise que realizamos enfatiza a necessidade crítica de as empresas planejarem suas ações e estratégias de mercado, não apenas para superar a concorrência acirrada, mas também para enfrentar o arrefecimento econômico previsto para o final de 2023. Nesse contexto, cabe aos gestores aprofundar seu entendimento sobre o negócio, buscando sempre contornar as previsões negativas e evitar o ponto de ruptura que poderia levar à recuperação judicial ou à falência, uma situação que, frequentemente, está carregada de tensões emocionais.
Amadeu Fonseca – Economista
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Natural de João Pessoa/PB, Amadeu Fonseca é economista com vasta experiência em finanças corporativas, investimentos e educação financeira. Possui formação pela UFPB, além de MBAs em Mercado Financeiro e Investimentos e Perícia Contábil pela Universidade Cândido Mendes. Obteve o título de Mestre em Economia de Energias Renováveis pela UFPB. Sua carreira inclui experiência em empresas do setor privado, abrangendo indústria, varejo e construção civil. Atualmente, ele desempenha o papel de Economista na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, bem como na Secretaria de Finanças da Prefeitura de João Pessoa. Coordena o “Observatório Econômico”, participa do “Programa de Microcrédito” e contribui para o “Núcleo de Educação Financeira” na cidade. Além disso, é ativo no “Programa João Pessoa Sustentável em Parceria com o BID”. Oferece serviços de consultoria em projetos de viabilidade econômico-financeira, ministra cursos e palestras, realiza perícias contábil e econômica pelo TJPB e faz análise de investimentos. É colunista no jornal “A União” e é frequentemente entrevistado em emissoras de televisão e rádio da região, onde compartilha seu conhecimento em economia e finanças.